Hospital Casaredo 15




Na praia da Senhora da Pedra tem um casarão



O céu                                                                                                                                                                                              

O brilho do sol

O vento, os aromas

As folhas balançando

Brotos, cores

Frescor da manhã. É primavera! 

Vamos florescer hoje! A.D.

 

 

Equilibrado precariamente na gávea, pressionado pelo mormaço e pelo vento, a dez metros de altura, o comandante escrevia meninices, momentos alegres trocados com Alois. Naquela hora cinzenta de novembro, o outono branqueara o sol. As temperaturas amenas apaziguavam dor recursiva, herança da torção no quadril. Outra carta do amigo andava dobrada entre as folhas do diário. Ininteligível, molhada de mar. Esta, José nem pudera ler. Mergulhado em devaneios, o corsário comparava amores de romance, alguns que ao menos tiveram um beijo, cotidiano de um ou dois dias, de lençóis, de cozinha, um cenário tangível. José Gaetano trouxe, de longe dos seus abismos, a Rosa. Do quanto falaram naquele último encontro. O marujo dera com um casarão todo branco, janelas céu, detalhes em azulejaria, na Praia da Senhora da Pedra. Imaginou a Rosa a administrar pousada para aposentados endinheirados. Queria, consciente, sair da voragem que o impelia ao redemoinho. Casar, atar a Julieta no jardim interno da residência. Andar de trem. Não soube o que lhe deu quando a notícia da gravidez chegou. Saiu batendo a porta do quarto querido, com o qual teria pesadelos por muito tempo. Adornou o parágrafo com uma Rosacruz.

 

A linguagem íntima travestida pelo corpo, corpo ferrovia, corpo e seus vagões. Muitos questionam a hombridade dos trilhos, sua coragem. Deixam-se pressionar, excessivamente vulneráveis, rodas caprichosas engastadas em eixo fálico. Cruz de Malta José desenhou, para esta tentativa de expressão. Já falamos, ou ainda falaremos, dos paneleiros. José Gaetano não era um, nem de longe. Não era de lado algum, tampouco a seu favor. Ele era, quem sabe, um ouvinte ávido sem escuta. Certos personagens nasceram para narciso. Em alguns lampejos, José confundia sua imagem, confundia o outro nas águas plácidas e eram todo um e era tudo mentira. Um caso grave de transtorno numerado. Mais uma vez, o desenho da Rosacruz.

 

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