o sonho de Portugal 5


O garotinho nasceu no Brasil. Como era de se esperar, fora bela a noite de conceber, mesmo a ocorrência se dando em pleno banco de jardim, no campo de marte. Haviam trocado meia dúzia de beijos, tapas e palavras do burlesco. Ele entendera que a mulher queria apenas diversão. Deu. A rapariga, descuidada diriam uns, irresponsável, outros, desmiolada, ficou com a roupa íntima desditosa e assim foi para a casa da mãe, de onde não havia desmamado. Dois meses e pouco haveriam de passar e a notícia se confirmou. Chegava, de zás e trás, aquele que seria conhecido por José. Foi bem recebido, apesar do susto. Gestou tranquilo, permitiu que a mãe seguisse com seu trabalho de acupuntura. Também fazia receitas de aromatizantes. O pai de José, encontrado aqui e ali pelos descaminhos, fez ouvidos moucos aos pedidos de assunção. Não queria e pronto, quem mandou ser dada. Apareceu um freguês de agulhas e ofereceu guarida. Sabendo que a filha era aluada, a avó trouxe José ao mundo e tratou de embalar a cria da outra, enquanto as agulhas picavam. O consultório onde Teresa se empregou pagava bem, a ponto de um financiamento de auto ser possível. A edícula nos fundos da casa de Lindinalva, a avó, deu uma casinha minúscula e bem cuidada onde dormiam Teresa, José e Oscar. Dali a pouco, pareceu a Teresa mais acertado atender a chamados para levar daqui para ali com o auto novo, socorros esporádicos, sem patrão. Até que o veículo se pagasse. Os rendimentos de ir e vir floriram e, em meses, havia o suficiente para uma passagem de ida a Portugal onde se sabia, trabalhar com embelezamento era estimado e lucrativo. José contava quatro anos. Criança serelepe, tinha a testa rachada, o braço deslocado. Teresa se orgulhava de ensinar ao menino a gostar somente de quem gostava dele. Rancor, desavisado, era um filete no canto dos lábios. Só faltava agora José aprender um segundo idioma, teria assim futuros na Europa. Teresa compunha seu sonho de Portugal, na voz do filho. Oscar não encaixava na história, tampouco Lindinalva.  O episódio do homem, do vestido e seus botões teria de esperar ainda mais um tempo. Teresa abriu a revista na estrada que leva a Manteigas. Aguardava sua vez no cabeleireiro. Ficou a pensar em vinhas. José acabara de se estabacar, na terra seca do parquinho. 

 

 

 

 

 

 

 

 

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