o sonho de Portugal 2








Santa Maria da Feira

 

Ali perto. Mata das Guimbras. O menino entrou na floresta, encantado com as armaduras medievais, o brilho das espadas. Mais, havia duendes pendurados pelos galhos, a baloiçar. Rica em imaginação, até demais, a criança, duns cinco anos, não sentiu a presença intensa, de odor acre, do lince ibérico que espreitava entre o mato rasteiro. Tratava-se de um filhote, pouco mais novo que o rapazote. E foi um encontro blindado, brindado, brincado. Confundiram-se, menino e gato, a perseguir-se por curto perímetro, enfrentando-se como cavaleiro e dragão. Um deles tinha significativo corte lateral e manquitolava, um tanto exausto. O outro, na euforia liberta entre espinheiros e plantas urticantes, gritava festeiro. Houve um instante breve em que o menino estacou. O filhote se encolhera, e sua expressão era de frio e dor. Experiente em pedidos de socorro, o pequenino pôs-se a uivar. Seu choro de boca escancarada, um AAAA crescente, libertava a alma. Ela, por conta, voava entre os galhos a procura de luz e adultez. A cavalaria chegou logo. Um homem com nanismo, pintado de verde, um senhor na beca de frei e o homem mais forte do mundo, na visão do menino, bigodes bem tratados, cavanhaque aparado e armadura que vez por outra recebia gotas de sol. O resgate foi simples e silencioso. Em pouco tempo, o frei sumiu com o gato lince ibérico, o menino soube um pouco depois, que era essa a razão social de seu amigo peludo e que ele estava bem. E ele mesmo, depois de desfilar, são e salvo, no colo do homem mais forte e belo do mundo, aconchegou-se aos braços de sua mãe. Daquele tamanho, ainda tinha o privilégio de  sorver leite de peito.

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