o sonho de Portugal 1









  



Rua Garrett, Lisboa

 

A moça chega ao café. Queda-se. Silêncios. Queixo apoiado às palmas. Os cotovelos a servir de viga aguardam no balcão. Tarde de verão, vestido creme, laise, sem mangas, flores grandes, vermelhas, desenhadas a nanquim. Saia rodada e bolsa de crochê traspassada. Um fugir constante do azul corpóreo quando passa seus quarenta e oito quilos de um pé a outro. Eterno viajor, estudante de pós-graduação, quer compreender Walter Hugo Mãe. Tempos de transição. O trânsito a sibilar, em avenida próxima. Primeira visita. A voz aguda não vai ao fundo do peito. Há muito que não soa, é rouca, ‘hormonosa’. Agora é mesmo lanhosa. As palavras, que um dia vibraram ocas, sem cotovelo ou leitura, vagam, sonham. Lisboa Cordilheira e a gata Gris. O que fará de um título desses? O Rio Vouga, flutuante no céu. Os sapatos vermelhos quicam a calçada da Garrett, pedra antiga, do argonauta que a navegou. Os pés doem, a pele, ressecada. A história se canta nos regatos.

 

 

 

 

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