ciranda das flores 1





Aqui neste vestido preto cheio de macelinhas, umas floritas assim, senti-me um pouco Antônia, a tudo abençoando, a tudo achando bonito, a tudo acolhendo de coração. Se houvera sensatez, eu saberia o lugar da caixa de chá. E precisamos dos chás. Desci o que havia na prateleira não muito organizada, anarquia sobre a mesa, potes, ervas e xícaras feias. Era tarde de verão e algo de riscar urgiu, criativo. Uma manhã que fosse de antecedência, a mesa estaria posta com honra. A casa rescenderia lavanda. Tomei do nanquim.

 

Concentrei-me no rosto. Um cavoucado caprichoso, cianótico sob o olhar que talvez não abandone o que eu não soube ler. Os cabelos. Eu não lembrava deles crespos. Deve ser por conta das estações.  Os cabelos a meio do pescoço, não tão longo quanto os de Chagal, mas onde deve cair bem uma gargantilha de quatro voltas, quatro aros, quatro correntes de madrepérola. O que meu buril realmente quer fundir nesta tela?
 
Um desses cadernos de desenho A4, textura levemente rugosa, baunilha. Demorei-me diante de certo ictus. A boca, eu a ia contornar. Estanquei o gesto por tempo demais e a gota preta esparramou inflorescência pequenina, estames isométricos. Eu não tinha quase dinheiro, os materiais escasseavam, não podia me dar ao luxo de deitar fora o papel. Tratei de trautear. Triu ri riu ri riu riá. 


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