Contos de buraco de fechadura

 



A pequena, dedos contra palma, espiava quieta o espaço escuro formado pela própria mão. Por muito tempo ela ficou assim, sem se mover. Trabalho idôneo, ela mal respirava. A outra mão, espalmada, tapava o olho esquerdo. A intervalos equidistantes, ela o destapava. Voltava a tapar e a atividade seguia sem variações. Passados eternos quinze minutos, terminou. A menina, devagar e calma, retirou primeiro a mão do olho esquerdo, pousou na saia florida. Como se sustentasse joia sem igual, com a lentidão das horas mortas estendeu o braço muito magro, apoiou o dorso da mão na terra, abriu os dedos. O escorpião, proporcional àquela palma, dos amarelos, periculosidade nove na escala de dez moveu sua cauda como em despedida. Partiu tranquilo, perdendo-se pelo alecrim. A mãe, que acompanhara a cena de um pedaço até o desfecho, largou a trouxa de roupa que apoiava na cintura e despencou na terra, desfalecida.


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