Agostinos




     Patagonia



O frio contente de agosto
Invade as frestas, enregela
Encolhe os ombros

Resta aos mortais saltitar
A zarzuela na noite que nasce
crotalos, cristianos.

A mão acaricia o tzoura.
O toombi recita seu do.
Duas vozes.

A hora é toda bordadura e brilho chumbo.
No véu de névoa 
Quero-queros descobrem seu ninho

Uma ciranda de três marias dá voltas
Dá voltas
Dá voltas

Um telefone toca em Órion.
As circes escutam a trova
São sedas de seus penhoares

Para compor a cena
Luuuuuu.... uuuuuuuuu...
Um barco, nau.

O mecanismo dos relógios marca repetições sem fim,
Iiiiiiiiiiiiihhhhhhhhh
Primeiro o doente, depois, a doença, saldo

O frio que as cobertas não suportam
Que o fogo não aquece
uiva das galés.

Princesa Zur, em algum canto de neve dorme,
frotas angélicas ciciam.
Um arremedo de aurora rutila no horizente anterior,

Pontejado de estalactites.
O dia promete umidade e friagem,
"Ua nai la la la ti o ú ú ú ururu.  Kio kio ti nana… tu tururu…"   

Os primeiros homens jogam seus embornais ao ombro
E seguem pelo campo, 
Não sem antes dobrar o joelho

Agradecem a vida que vem.
Não virá o sol para aquecer os pastos hoje.
Não virá o mormaço para a preguiça do meio-dia

Nas carpintarias o canto do serrote estridula.
A alma revoa, o corpo distrai, se torce em arrepio.
Deméter chora por Perséfone.

Hades, inflexível, comanda o inverno.
Orfeu canta à entrada do palácio trevoso.
Três da tarde, os tomates maduros quedam nas cestas, um a um

O pastor geme sua harmônica
improvisa para lograr o frio.
As ovelhas, pasmadas, ruminam.

A paisagem tênue, tingida de filetes brancos,
Ecoa os córregos gelados.
Um jovem cruza de bicicleta.

Lume no horizonte,
lume de sol agostino,
sussurro pungente de arcos.

Nova noite sorri entredentes, sem estrelas, hoje gris.
As ninfas fecham seus casacos azul-petróleo.
Entra na cena diáfana a poeta Safo 

Uma das atenas, madura, inicia a prédica sem palavras:
"oe lala ree o, o nana na reo reo reo ree. É ti Éti, É É É... lasai na na nai na daí"
Um bordão reúne as energias galáticas 

Afrodite lhe responde,
O coro contemporiza, considera. Define.
Por um instante, o céu está limpo. Prata.

Mercúrio, de pés alados
flutua de um lado a outro, em congratulações.
A música, assim disposta, em tons apolíneos,

Faz ressoar as mielinas dormentes. 
Até os músculos desatentos das pernas gemem, 
reconhecem o impulso de caminhar.

Assim reunidos, deuses, anjos, mulheres, cavaleiros, reis, 
silentes na meditação
consolidam a divina arte da fruição, 

enquanto Safo corrige os versos mancos desta poética de ouvir. 
Entre um respiro e outro
Ouço o cantar mágnífico das sílfides,

Bom dia, bons dias, bons fluidos, larga jornada de ires e vires...


Cami, este sitio é pueril demais pra deitar qualquer gesto de afeto. No entanto, deixar em branco um dia como esse, em que não nos vamos ver, é como desdenhar das horas, é como tornar escuro o claro, é como desdizer do silêncio. Façamos, então, um 'parto fônico', esperando ouvir a própria voz. Um beijo.

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