as folhas de abril
Quem toca o meu coração?
Ah, tumultuoso canto
Que já anda todo arado
Esse nó descompassado
Que já viveu de doer
Quem toca o meu coração?
Panaceia tagarela
Que enevoa a redondilha
E me sai um tal arpejo
Que diz muito a não dizer
Quem toca o meu coração
É alegre e também triste
Saliente e silencioso
É bem verso clamoroso
Que resmunga bem querer
E assim podia ir
De laçada em laçada
De arenga em arenga
Que o meu coração tocado
Nunca para de bater
10 de abril
10 de abril
Saudade é um bicho?
Pode que seja.
Comi torrões de terra
No quintal de minha avó materna.
Eu era bebê, os vírus da pólio tinham
Invadido a mielina
E então o sumo ferroso da terra
Fazia certo bem.
Foi a única terra de que me adonei nesta vida.
As lombrigas que criei dessa fartura
Foram muitas. Limpei.
Ficou um caldo de pranto,
De olhar a casa, hoje em dia,
Já de outro dono.
Saudade é um bicho?
Pode que seja.
Bebi água marinha alguma vez.
A minha lida com as coisas da Terra
Foi assim. Sereno, pó e susto.
A mãe tá andarilhando em terra santa de Javé,
no buscar de sua mãe Aracy.
A chuva demorou cair neste outono.
Um cheiro gasto de madeira em combustão
dormiu na aguaceira, deixando o ar de respirar.
Certa paz. E aí a saudade veio, com gosto de torrão.
Ou seria bicho?
Oceano
céu
espaço
perigo
o tempo
e as
sereias pássaro..
cerne
inércia
além
perigo
o tempo
e as
sereias peixe
cantiga
mágica
dor
prata
as horas
e as ninfas
de corrente
casco
som
brisa
láudano
as horas
e as sílfides
castelãs
Narciso
tritão
barco
canto
as âncoras
e os ancoradouros
espanto
arcabouço
projeto
o lacre
pedaços
e os
carreiros no jardim
27 de abril
As cantigas ressentidas
Embalavam certa morbidez
Porque afinal nada vive por morrer
E eu não senti que sofria
Daquele corpo eu toquei as mãos
E era como tocar o vento
Narciso a se mirar no tempo
Um espaço de enlevo e não
Meu peito se fez feltro
Esquecido num canto de jardim
Semente queimando por dentro
Um respiro nervoso, motim
O sorriso era isso, menino.
Um tom gentil a me guiar a pena
Um ponteio na tarde, o Tejo
Meu verso de volta por fim
27 de abril
O sorriso era isso, menino.
Das vezes que o mirei
Calei segredos,
Ou contas de vidro colorido
Eu olhava o Cramol naquele rosto
E o que havia eram aposiopeses
Ancoradas ali num atol de partos
Que nem cor tem
As cantigas ressentidas
Embalavam certa morbidez
Porque afinal nada vive por morrer
E eu não senti que sofria
Daquele corpo eu toquei as mãos
E era como tocar o vento
Narciso a se mirar no tempo
Um espaço de enlevo e não
Meu peito se fez feltro
Esquecido num canto de jardim
Semente queimando por dentro
Um respiro nervoso, motim
O sorriso era isso, menino.
Um tom gentil a me guiar a pena
Um ponteio na tarde, o Tejo
Meu verso de volta por fim
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