outubro tardio





9 de outubro

Canta mais uma manhã
A canção devota da vida
Soa leve, soa a voz do sol
Tem um gosto até, de malva rosa
Entoa uma brisa mansa, quase dança
Loa de graça e benzedura
O mote é a constância, a firmeza
Dedicatória de idílio longevo
Eterno, por que não
Vai seguindo a cantilena
Embrenhando-se pela tarde
Ventando as remissões
Todo tempo é um canto bento
Onomatopaico, sumarento.
Embalo de roupas no varal.



 12 de outubro


Acalanto é um mantra.
Mantra é uma forma de conexão com o divino.
O bebê é manifestação do divino.
É o novo.
E é o medo também.
Qualquer hora é hora de acalentar,
de aninhar o divino nos braços
de lembrar que já foi divino
que é divino
e sempre será divino.

que os acalantos da coleção acalantos de além-mar te sirvam como pequenas preces de consolação. abraços.


17 de outubro


Eu pensei em te escrever uma cartinha
Nos moldes de Vinícius de Morais
Acalanto da Rosa,
Para viver um grande amor
Encantos de cais, e então seria Dorival
Rosas formosas, rosas de mim
Algum verso assim
Em boa companhia, eu te esperava
A madrugada, quieta, banhada de velas
Xicarinhas bonitinhas
Que xicr‘inha é inha feia
(Caldo de feijão e legumes picadinhos
E cebola e alho e pão)
A madrugada falava de Allende, de fugas e prisões
De aviões e movimento
De pele brilhante e coração
E o meu e o acalanto da rosa
Se recusavam a dormir
Eu segurei tua mão onírica
Imaginando tua voz tua fala teu riso
E o acalanto a me dar asas
Rosas
E poesia
Uma pitada de cavalheiro
E espada
Carlos Chagas e cipó mil-homens
E maleitas e trilhos
E incoerências do fígado
Santarém
Ou trilho largado em um confim do Brasil
E, enfim, eu te escrevi uma cartinha
Uma das trinta e tantas que escrevi
sem volta
suspiros e alecrins
Rosas, das rosas, dos sins
Eu, embora aclarada do azul manhanzeiro
E sabendo que tudo é vão
Ainda assim te escrevi uma rosa
Um acalanto
Uma cartinha
Uma glosa, um cipó de amor


27 de outubro

O olhar do poeta recaiu sobre a formiga.
Mínima.
Álcool e cravo.
Algo entre o corpo amigdaloide
E algum órgão responsável pela produção
De adrenalina.
Instante.
E o sol ensaiou seus calores.
Triz. Ou a atriz de Tatára, é o mesmo



31 de outubro

Um pouco de chuva
A folha branca do poeta
Todas as canções
De lacrimoso encanto
Outro tanto e chuva
O verso rabiscado
Alguma canção
De adjetivo incerto
Mais chuva
A palavra de hábito
Certa canção
De peculiar vulto
Conto os dias, rosário
Há que cortar a raiz
Doce canção
Compendiar o parto
 

 

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