A boa nova de setembro e outras cantorias, nem sempre curtas *

*arquivo do facebook


1 de setembro

Muitas vezes te vejo, realidade
da cabine de uma aeronave
Ophiucus desvendada
incauta, metade rabo, metade langor
Muitas vezes te vejo, realidade
E desejaria Vy Canis Majoris
ser dela, ter com ela
Passa que passa o dia que passa
e eu, ser elementar das contas divinas
divido-me
cartas postas
entre a orbita e o cúmulos
Daquilo que eu sei pouco importa
a distancia e tanta que fim ou começo
e o mesmo movimento
Muitas vezes, no entanto te vejo, 
realidade

7 de setembro

A poesia seguiu as pegadas de Llosa,
entrou em seu universo de Gauguin.
Complicado entalhe, do Taiti a Toulon.
Tomou o vapor à Martinica
e rompeu a aurora em Lyon.
Isso é 1901.
O holandês louco irrompeu como fantasma
e iluminou a partilha canibal de Gaugin.
A poesia demorou-se, dias e dias
em leitura tensa e tesa.
Flora Tristán socorreu, para gerar intertexto.
Metatexto. Transtexto.
A poesia aportou nas Marquesas,
pudendraga.
Anseio por tua volta, Ut Pictura Poesis,
icônica, lavada, lavrada, paleta livre.
Isso é 2014.

15 de setembro

E éramos duas conjuções del aire
uma luz, outra sombra
uma voz, outra pássaro repetidor
E assim engendramos tal amor
E o tempo se desfez em miasmas
Hoje sou lira
Ela não


Amanhã será um novo dia, que tal? Tão azul baço e calorento que só a água azul do Rio Bonito...

Aplico um largo tempo dos últimos dias
a enredar um caderno de canto.
Quem vai cantá-lo?
O mais belo dos homens?
O mais menino?
O mais arfante?
O de olhar marejado (o que "engoliu o mar"?)
Onde andam as mulheres?
Sem pintura?
Na clausura?
Exaustas de tanto cantar?
O corpo claudica
a voz (de alguém) sussurra em mim
A dona do Araruna
Ensina Nozani Na em algum canto
e o meu encanto enche a sala de espelhos de som
Sou mesmo grata ao canto
ao espanto que (ainda) tenho
Vou seguir escrevendo
mesmo que não se colem
os fôlegos do canto no final


17 de setembro

Eu olho as marolinhas que me sobram na memória
E sonho meu cabelo esvoaçando em teu ombro
Enquanto cantamos, juntos, qualquer canto
Esses de amor manso, azulado
De tanta leveza
Poesia mesmo, a maré levou...


20 de setembro

Eu olho as marolinhas que me sobram na memória
E sonho lençóis de outras vidas
Enquanto embalamos, juntos, nosso filho
Nosso amor manso, azulado
De tanta leveza
Poesia mesmo, a maré trouxe...

21 de stembro

hoje as tais marolinhas da memória
me trazem a árvore cheia de lagartas
e o rosto enevoado de minha mãe
ela já tomou aquele velho navio
aquela alma tão antiga
adeus, mãe...


24 de setembro

Invento o amor que não vem.
Eu o vejo acenando daquela galera longínqua
Lá onde o corsário é bravo nas ações
e gentleman no trato
Lá onde o selvagem leu muito
e muito viu sofrer
e então seu coração é compassivo
Lá onde o vicking barulhendo
atrapalhado, escandaloso
é puro como um lilás
Invento o amor que não vem.
Eu o vejo através das sombras
da noite que desce
e sinto sua mão tocando meus pés frios
Ah, onde o arauto das modinhas mais amenas
se faz escutar
e então sua voz é pelego no inverno
Ah, onde o fato de ser eu um lustre
um luzeiro ou lugar comum
é apenas uma razão a mais de querer bem
Ah, onde a espada tesa
nada mais é que expressão de complemento
do sorver de um carpelo
Invento o amor que não vem.


26 de setembro
E dormia o poema no cais do porto
Nuvens caprichosas desenhavam um verso no céu
Como bálsamo, as marolinhas distraiam o vigia solitário
Os dias sucediam, uns mais, outros menos, mornos
Naus atracadas, redes por coser
Tinha nas mãos o teu retrato, recém endereçado
Resto de festa de natal
O amor, esse vento leste...

Ele retirou o poema das entranhas
Como um caso triste de fim de inverno
O broto, queimado nos estames,
ainda da última geada,
Olhava reticente o gramado careca
Não é possível, haveria de virar flor

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