Afetividade compartilhada em educacao de nivel superior
Na cronica de hoje, abro novamente espaco para meus meninos, esses que aceitam falar sobre as coisas durante e apos as aulas. Se algum dia havera material consistente para um ensaio, ainda nao sabemos. O que pedi a esses mocos e que escrevam sobre o que lhes chama a atencao nas conversas, o que os move, sensibiliza, o que faz a diferenca em sua formacao. Cantar e a meta. Cantar para se divertir, para se disciplinar, para se curar, para fazer arte, para vender produtos, para mover montanhas, para tocar o coracao do outro. De minha parte, exercito o tema de minha missao: A afetividade dessa educacao que compartilho.
DE ONDE VIEMOS?
Começamos uma pequena discussão sobre gêneros
musicais e estilos de vozes. Tentei executar uma musica com sotaque nordestino
e percebi que ela ficou mais pop do que se estivesse sido interpretada pelo
KLB. Interessante que me preocupei tanto com essa questão que me esqueci de
cuidar da afinação e outra vez minha afinação flutuante me deixou fora do tom,
mas acontece nas melhores famílias.
Recebi alguns conselhos de como o povo nordestino realmente canta e fala
também, logo nossa conversa tomou outros rumos. Falamos sobre indústria
cultural, óperas e fandangos, interpretação, imitação e apropriação. Poderia
escrever por horas que assuntos diversos não faltariam.
Como de costume, após a aula de Canto Solista
tivemos uma daquelas conversas informais entre amigos (pena a professora não
poder participar dessa vez) e começamos a falar de alguns mistérios da vida. O
assunto iniciou sobre as mulheres, para variar, e foi parar em vidas em outros
planetas. Conversamos muito sobre
religião e muitas teorias da Física, falamos um pouco sobre História de povos
antigos também. Até que um de meus colegas comentou sobre uma pesquisa que ele
fez onde falava em vida em outros planetas, onde, esses seres vivos seriam
pessoas como nós, humanos que viviam em outro lugar no universo e que
conseguiam atravessar portais com sua tecnologia avançada. Nessa pesquisa, ele
explicou coisas como o aparecimento de pequenos homens brancos e o Chupa-Cabra.
Muito interessante que várias coisas das quais discutíamos apesar de ser algo
“do outro mundo”, de certa forma, faziam o maior sentido. Citamos vários
livros, vídeos, filmes e alguns documentários sobre o tema. Sobre religião,
comentamos coisas desde Vodoos africanos até o Natal Cristão. Meus colegas
contaram algumas histórias de espíritos e oxuns enquanto eu ouvia aquilo e
recordava de cenas familiares. Quando começamos a falar sobre Espiritismo que é
algo presente em nossas famílias, quase que sem perceber começamos a mudar o
rumo da conversa outra vez, colocamos o tema SONHO na roda. Algo que todos os
seres humanos fazem enquanto dormem em vários momentos da vida (às vezes nem
precisam dormir para sonhar) e que não ouvimos uma única resposta que nos
convencesse do real significado do sonho. A Psicologia explica como um desejo
profundo do ser, a Medicina diz que é o cérebro assimilando informações
enquanto o corpo descansa e algumas religiões dão significados místicos como
visões ou sinais de algo que aconteceu ou virá acontecer. De onde viemos? Quem
nós somos? Para onde iremos? O que é o sonho?... Não fazemos a menor idéia! Mas
cantar nos faz sentir que estamos vivos nesse pequeno planeta feito de sonhos.
Hoje a aula de Canto Solista, assim como a maioria
das aulas dessa disciplina, abordou o fazer musical de uma forma que me agrada
muito. Essa forma reflexiva de se analisar a nossa ação musical e também nossa
ação como educadores, tem uma enorme importância, e que é normalmente
desprezada pelos professores. Quando fazemos isso acabamos percebendo novos
olhares sobre o assunto, no nosso caso mais específico, sobre o canto, e vemos
um leque de possibilidades se abrindo. Acredito que muitos desprezem esse
exercício por achar uma perda de tempo, ou simplesmente porque nós enquanto
artistas não temos essa cultura.
Dentro destes questionamentos de hoje teve um que me
chamou a atenção em particular. Acabei por reparar, que vários colegas de
classe e inclusive a professora têm um motivo muito forte para cantar. Isso me
incomodou um pouco, não por ter ficado constrangido com essa constatação, mas
pelo fato de que fiquei me questionando se realmente tenho um motivo que me
leva a cantar. A princípio eu acreditei que sim, que minha motivação é regida
pelo autoconhecimento, mas posteriormente essa me pareceu um motivo muito vago.
Portanto, não sei se tenho um motivo e que talvez encontrar um me fizesse ter
um desempenho melhor no meu fazer musical.
Buscando uma oportunidade de
ampliar, compreender e reaprender a relação musical se torna possível uma troca
de experiências e indagações de um grupo. Quando falo em grupo me refiro à
relação em que orientador e participantes formam durante o encontro optativo de
canto SOLISTA. No encontro realizado no dia de hoje (26/04/12), muitos assuntos
foram abordados, onde vou destacar alguns em particular.
Gostaria
de iniciar comentando sobre as barreiras na interpretação de música regional,
para que a interpretação não sofra por que questões de sotaque, isto é para que
não fique artificial sem identidade, dentro de uma discussão observa se que
logicamente é possível um paranaense cantar um baião do Luiz Gonzaga, mas se
torna importante à compreensão do sentido de dizer as palavras, por exemplo: sonhar,
onde no Paraná tem a caraterística de emitir o som do R, ou sonha, dentro de
uma visão nordestina valorizando o fonema NHA. Detalhes sempre acabam dando o diferencial
dentro do mundo musical.
Dando
uma continuidade em relação a musica popular brasileira observamos que não existem
muitas opções em relação à Song books, isto é comparando a quantidade de musica
produzida com musica publicada não chegaríamos a 10%%. Será que a partir desse
momento não seria necessário uma mudança no pensamento sobre a publicação de
uma forma mais precisa da musica que ouvimos e produzimos.
A
relação de mercado e música coloca em questão em que nível se encontra o musico
de empreender sua arte, questionamentos sobre essa formação coloca a adequação
acadêmica dentre as soluções. A visão de que canto é um bom negocio por ter
investimentos consideravelmente baixos, chega ser uma inocência intelectual, por
ser um instrumento que todos possuem. O tempo em que se gasta com dedicação e
pesquisa pode se comparar com um médico especialista.
Sempre acreditei no aprimoramento das relacoes humanas como carro chefe do fazer na educacao, em qualquer epoca da vida. Uma diade e necessaria nesse acordo: um professor e um aluno. Como se trata de relacao de poder, defendo que nenhuma negociacao, empreendimento, discussao resulta em fomento quando o relacionamento inter e intrapessoal ocorre de forma superficial e com base em interesses diversificados no ambiente academico. Aspectos eticos como o egoismo e o orgulho - que circundam o manuseio do poder, sao dois aspectos a serem amplamente trabalhados nessas interacoes pessoais. Em analise, a figura que serve de referencia, bem como a figura que baseia sua atuacao em tal referencia. Trata-se de uma relacao entre fraco e forte. Entre liderado e lider. Entre aquele que quer saber e aquele que sabe. Ambos em busca da perfeicao, professor e aluno utilizam-se das ferramentas educacionais, que pretendem deslindar estradas iluminadas, claras, espacosas, bem planejadas, com pistas diversificadas de velocidade, com paisagens instigantes e expressivas. Essas estradas beneficiarao e provocarao situacoes de aprendizagem e reciclagem das duas partes. Professor e aluno guardam distancia, acreditam alguns. Uma distancia calculada, treinada em laboratorio para opor preparo e preparacao. A distancia entre o conhecimento e o que se quer conhecer. A regra e o nao envolvimento emotivo, pois tem-se a impressao de que quando as emocoes penetram o universo educativo, ao mesmo tempo abalam a forca unilateral que o poder pressupoe. Se eu detenho o saber, eu controlo a situacao. Entrelacam-se professor e aluno no entanto em intima cumplicidade, num vinculo que pode durar por toda vida. Um vinculo que pode espalhar sua vibracao e abracar mais pessoas no seu campo magnetico. E nesse postulado em que eu acredito. Ha de haver uma diade que vibra organicamente, passionalmente e amorosamente, invariavelmente nessa ordem progressiva de voltagem. E esse postulado que pretendo desenvolver. E essa potencia que pretendo investigar. Que dessa diade nascam ideias surpreendentes, de pesquisa real, em prol da evolucao terraquea. Nao e interessante utilizar neste contexto as palavras amor e amizade. Utilizarei entao um termo mais abrangente: Amorosidade. Tambem me agrada a palavra afetividade. Trata-se de pensar seres organicos, com respostas quimicas, psiquicas, extrasensoriais, cognitivas, interagindo em busca do conhecer. Essas conversas que tem ficado entre alguns mocos apos as aulas de canto parecem um bom material para dados futuros... vamos continuar nos falando rapazes... daqui a pouco as mocas virao, outras turmas virao e teremos estabelecido um cinturao de dedicacao a esta arte tao singela e grandiosa que e o canto. Um abraco a todos os colaboradores.
Convidamos e aguardamos a todos os interessados em integrar essa conversa.
Um abraco amoroso, como querem Roland Barthes e Mikhail Bakhtin.
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