A marcha dos elefantes
No solo da África a chefe elefante caminha.
Com ela toda a manada. Vão atravessar o Congo.
Os animais soam seus clarins
Para anunciar quem são e onde estão.
Os cheiros poderosos da noite envolvem a floresta.
Inteligência orgânica.
Mil e quinhentas aranhas vivendo numa teia,
Que é consertada todas as noites.
Um por cento do chão da floresta vê a luz do sol.
Pequenas réstias atravessam as árvores,
Algumas plantas sobrevivem desse banho de luz.
Breu profundo. Enchentes. Vento. Solo sedimentar.
Há uma parceria entre formigas e árvores.
Animais famintos.
Mogno.
Um terço da floresta pode sumir num passe.
Fertilizantes naturais.
A resposta à vida é a morte.
Recicladores.
Dois milhões de cupins.
Subsolo arenoso.
Minhocas.
Bactérias. Vermes nematóides. Fungos.
Estes últimos ligam as raízes das árvores no chão poroso
E conduzem nutrientes.
Tudo depende de tudo.
A marcha prossegue na auto-estrada.
O movimento funciona como a mente humana.
O objetivo é chegar à terra prometida.
Há um lugar visitado há milênios.
Mamutes.
Dinossauros.
Se Valéria Grillo anuncia o milagre,
Se o Planeta oferece ações tão sábias,
Por que sofrer pelas memórias
Idas, pelas histórias pungentes
Pelas marchas a princípio pouco frutíferas,
De estações instáveis,
Águas insalubres,
Encontros acidentais?
Que os elefantes e suas andanças
Sirvam de exemplo,
Santo Antonio.
Que as pegadas fundas desses monstros
Inspirem meditações
E nos ensinem
A sempre seguir.
Vem à memória a mãe elefante.
Seu bebê nasceu com as pernas dobradas.
E ele não se põe de pé em tempo hábil.
Com a mãe, uma irmã do bebê,
Aflita e solidária.
Passam dias capitais.
Tudo parece perdido.
Se não seguirem viagem,
Perder-se-ão dos outros, que já se vão.
E a mãe ali, quieta. Espera.
E o bebê supera a dor, o cansaço, o perigo
E caminha.
E chegam,
Todos.
A jornada afinal termina.
Água.
São tantas imagens e trilhas e intenções.
Tantas idéias ao longo da narrativa
E a repórter, brandamente, move os braços e sorri.
Eis a Terra. Eis o Planeta. Eis que tudo funciona. E passa.
A sabedoria não carece de emoção, mas de entender a Beleza.
Eu não tenho a Beleza inteira aqui comigo.
Falta a umidade, o húmus, a fotossíntese.
Ou nada falta,
Aí está o que posso dizer sem caminhar.
Santo, Santo.
Hosana.
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