Sol da tarde e furta-cor

Breves pingos de chuva. Vapor.
É meio da tarde e o sol sorri desmaiado
Em seu vestido de nuvem.
Há esperança. Boa safra de macaxeira
No nordeste do Brasil.
Não lembro de ter visto, nesta vida,
O céu tão claro em sua furtiva cor,
Anunciando o avanço da estação.
É semana santa e o astro celeste, em mística aura
Lembra os doze trabalhos do Cristo.
Floradas tardias na serra,
Folhas bailando no asfalto, amarelo queimado
Cinza raiado
E as formigas cortadeiras a tecer no bastidor.
Se fora romance, primeiro parágrafo.
Trabalho lento, esmero.
Falo com o céu,
Falo com Santo Antonio.
A tarde segue seu curso
E a lua desperta em meio à mesma furta-luz velada
Quase sombra em seu cheio clarear.
No plano de fundo
Onde a Virgem de Guadalupe
Tem morada,
Os chamejantes olhos do gato. Alerta!
Atentos
Em seu soninho de amor.
O guarda-casas diz boa noite
E tudo bem, estão todos aqui. É outono, então.
Que o silêncio gelado das tardes furta-cor
Surpreenda as pausas de calor até o inverno.
É tempo de repousar.


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