quando o canto cala para te tocar



Amamos sempre no que temos
O que não temos quando amamos.
intróito de Alberto Caeiro
*

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar...
excerto de Alberto Caeiro

*

eu te vi embargado hoje
e meu canto se calou...
tu me pedias que eu cantasse no dia da tua passagem
e eu te disse
reta
quase cálida
que te cantaria todos os dias
em vida
todas as estâncias de ágape que souber
eu me sento em tua cadeira
de ver filmes
e repasso a cena
eu não tenho idéia da força do canto (que canto)
eu não tenho idéia
da força univérsica contida nos movimentos (que faço)
de desejar, obter, obter de outra senda.
Antevejo esse momento com imenso temor e respeito
invocando zengoldábil sem habilidade,
este mantra numerológico de
trazer o movimento benéfico do uinverso para perto
O que é o querer?
Eu que queria o intocável hoje...
E então o meu canto se calou...
A força torna-se meta,
busca primal.
Eu me calo para ouví-la, a força,
no fundo do ser de mim que canta,
no fim do mundo que me sopra o canto em mim
no entorno
nas horas escorridas
(as horas tem-se escorrido...)
é provável que eu passe antes, Luiz
e será voce a tocar Claire de Lune para mim...
no silêncio desse dia, no simulacro de cada respiro
no hiato de cada palavra a formar a paisagem
penso no UniVerso.
Nas conspirações univérsicas a rir
de meu silêncio parado...

Eu te ofereço esse silencio, Luiz.
Eu te ofereço essa entrelinha delineada na réstia do holofote,
na subida da mão antes do toque e do som...

todas as vezes em que eu cantar, Luiz
estarei cantando para ti, encarnado,
presente nessa Terra,
palpável, tocável como te sinto
próximo como te sinto
ao alcance no plano físico
ao alcance no espírito
simbolizado nessa estante imponente
das minhas vigílias
na estação passageira
e insólita em que convivemos

que as pérolas de luz me venham,Deus...

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