Tens as musas e outros poemas de abril

*google images
Murmura a noite, por Osíris.
Ouve, que és tu Isis, a cantar o azul chumbo sobre bordão.
Responde, ó casto címbalo gentílico de Ápis,
Tens as musas suspensas pela mão.
É tarde já, o umbral da madrugada te saúda.
Dizes elegias de aliciar os deuses
E coroas de lilases o samovar de Zaferan
Cantas, sôfrega, feito deusa desvairada
O cântico de Belenos
Mais zéfiro a cada estrofe.
Pões a palma sobre o regaço desnudo
Onde a curva lasciva mais descai
Ris, triste até, de tanta verruga que tens
Fazes um carinho desmaiado sobre o mamilo rijo
E lembras os dezesseis anos que já vão sem mão outra que a tua
sobre o seio.
Rolam pedras sobre pedras
Tanta des ilusão
Inúteis relíquias a dormir em baú mofado.
Lutas pela galeria
Idade pérfida essa que o Anjo ponteou
Zílex e Vangarden a repicar o carrilhão.
A noite metáfora te jura ambrosias.
Rubra de pejo a tua face
Gelo seco na varanda e rubi.
E tarde já, o umbral da madrugada te saúda.
Sabes que anseias chamá-lo e não deves, o teu deus dos cristais
o teu morfeu dos bisturis, distante e indelével.
Tateias essas galanterias greco-egípcias por não poder gritar
A verdade mais abrasiva – ama-o, do mais revolto dos amares
Rumor dos mares das navegações primevas
Recôncavo dos mavericks havaianos
Enamorou-te de um corsário atávico ou pórtico madeira-metal,
tu que és cristalinas águas azuis.
Nenhum farol te dará guarida, deusa dos nadas...
Atravessas solitária a fímbria da manhã perdida
Sem vintém e gentilezas, que isso é lá para as outras
Curva-te, dama de um futuro que não vem
Impossível enxugar-te o pranto quando ele jorra
Muitas vezes já choraste
E nem eras a era de pó que és
No momento só devo mirar-te
Tonta
Onde foi que se perdeu a tua égide, ó Isis?
6 de abril
jovial a palavra que se apresentava na pauta em branco
útero, jubilate
blástula, servite
intimidade ancorada por uma madrugada insone
lys e eu pestanejávamos e trocávamos odes
as novidades nem sempre alegres
tempos de meditar, de aprender, de ser pacientes
em mim desejos de amparar o coração
sabendo que o outro pode querer ou não tal intento
então apertou-se meu plexo, lembrei-me do ninho de ópio
reverdecendo calado no abdome murcho
vidas que não vieram pelo viés da minha
intangível ainda a lógica informacional deste evento
tenho comigo a interseção de tantas mães
eu não me recusei, apenas fui outra...
frutillar, terra sonora, 2005, Osorno
13 de abril, outono, friozinho, chuviscos
Fez a marola na cama dos verbos
Repousou o corpo dorido de uma semana a cantar
Alegre, o semblante esvaziou-se dos pesos dos outros
Gostosa sensação de areia a invadir os olhos
Inspirou o mundo com as mãos dormentes
Lavou os pensamentos e pegou o sono no pulo
Paz do outro lado é poucas vezes que se vê
Espera pelos cantos, mas é avenidas a pé a percorrer
Referências diárias colhidas em sonho
Viadutos, livrarias e camas alheias, Berlim
Estranha angústia de quem nada tem
Rompe mais uma aurora com gatos a farfalhar
Suspira toda a areia acumulada nas bolsas sob a pálpebra
O sol não veio, mas uma chuvinha fria e amarfanhada
de outros abris:
Vogam as roupas no silencio da tarde
e o inverno segue, embalado nelas
Secam com vagar as roupas,
entretidas em seu intimo sussurrar
A china, que as lavou
olha da janela o terno bailar
E mais uma noite que vem
em sutis delicadezas, a cantar
mi cante y un poema
mis lagrimas y una flor
un tiquitito viento
y un poquito de tu amor
duma rosa tão catita
que catei
e não viste
não são horas
de desfolhar
o rosário
de riachos d'alma
do futuro do canto
oxalá é do mar
que me chega
o sentido
de tudo isso
*osorno, fevereiro de 2005, foto de flavio mottin
de outros abris:
Vogam as roupas no silencio da tarde
e o inverno segue, embalado nelas
Secam com vagar as roupas,
entretidas em seu intimo sussurrar
A china, que as lavou
olha da janela o terno bailar
E mais uma noite que vem
em sutis delicadezas, a cantar
mi cante y un poema
mis lagrimas y una flor
un tiquitito viento
y un poquito de tu amor
duma rosa tão catita
que catei
e não viste
não são horas
de desfolhar
o rosário
de riachos d'alma
do futuro do canto
oxalá é do mar
que me chega
o sentido
de tudo isso
*osorno, fevereiro de 2005, foto de flavio mottin
poemeto de 19 de abril de 14
Contudo
eu posso guardar distancia
posso guardar silêncio
só não posso cortar as asas dos sonhos
e lá está
a rosa que não me deste
contudo, é o livro
que me devolve o que sou de mim
enquanto tal rosa murcha em seu vaso tumular
ps: recomendo, "Mamas Sicilianas", e viva Santa Ágata!
Salve Ogum, Salve Jorge!!! Liane Guariente, numa da apresentações do Terra para a FCC, 2009, penso eu... foto de alguém de lá, desculpe não saber...
outro, de 23 de abril de 14
Contudo
eu posso guardar distancia
posso guardar silêncio
só não posso cortar as asas dos sonhos
e lá está
a rosa que não me deste
contudo, é o livro
que me devolve o que sou de mim
enquanto tal rosa murcha em seu vaso tumular
ps: recomendo, "Mamas Sicilianas", e viva Santa Ágata!
Salve Ogum, Salve Jorge!!! Liane Guariente, numa da apresentações do Terra para a FCC, 2009, penso eu... foto de alguém de lá, desculpe não saber...
outro, de 23 de abril de 14
Tombo. Capa e espada enlameada.
A noite chove.
É a vez dos loquazes…
Tombo. Na lama dorme meu corpo
Parado, confuso.
É a vez dos vorazes.
Tombo. A água passa-me o dorso
E o gemido de outros homens assombra.
Ainda não os abutres.
Tombo. Mas não, há de mim o cordão das horas
Suspenso.
Outra vez um parto.
Comentários
Postar um comentário