“O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.”
Tomei a liberdade de postar o texto, muito compatível com as ideias que venho estudando e pode ajudar a enreda-las em constructo mais consistente.
" Disse um tal Henri Bergson, pensador que ocupou sua mente com a questão da percepção do homem: “O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.” Eu acho muito importante que alguém tenha decantado este pensamento assim, a ponto de poder emiti-lo com esta clareza. Sem querer me adonar de qualquer mérito do Sr. Bergson, eu também desconfiava disso.
O olho vê se a mente puder compreender.
São momentos diferentes para um só
propósito. A gente precisa ver. Mas se não pudermos compreender o
fenômeno nossa mente simplesmente ignora o que atravessa os olhos. É
assim.
O fenômeno existe fora de nós – fora da
nossa consciência, ao menos. De repente ele atravessa um de nossos
sentidos de percepção. Isto acontece em uma instância bastante
adormecida de nós, que é passiva, aberta, suscetível às apresentações de
fora.
O olho, ou qualquer outro de nossos
sentidos é incapaz de julgamento. Não se retira do que acha feio, do que
acha agressivo, nem mesmo do que ameaça a integridade do indivíduo a
que serve. Pense que podemos olhar tanto para um rio borbulhante quanto
para o sol sem que o olho em si mesmo conheça que o sol pode condená-lo a
não ser mais útil como órgão de percepção. Olho é corpo quase morto. É
quase lente de vidro, luneta.
O olho é serviço somente e por isso é
perfeito.
Mas para ver minha mente precisa de um
preparo, de um tratamento prévio relativo aquele fenômeno para poder ser
impactada por ele na verdade que ele traz. É necessário que se tenha
sido visitado pelo fenômeno que se apresenta aos nossos sentidos em
outra instância antes. Em partes espalhadas pela nossa vida: se o
fenômeno é uma árvore, meu olho capta aquela massa em muitas direções
multiplicada – cada vez mais fina, cada vez mais longe. Concentrada na
base até uma altura e de repente plural, arejada.
E perde-se em cores das mais escuras até
as mais claras neste tronco, e vai destas cores ao verde nos galhos da
periferia e finalmente é folha aberta a luz – centenas, milhares! Se não
sei de ‘um e muitos’, se não sei de ‘verdes e claro/escuro’, se não sei
‘tronco e folha’, se não sei de ‘luz’, daí não saberei árvore nunca!
Como é que eu vou conhecer uma coisa que
não sei? Como é que vou saber uma coisa se não se mostrou para mim pelo
menos aos pouquinhos antes de aparecer inteira?
Ocupei-me disso durante um tempo. Claro,
porque eu mesma vejo que em mim a compreensão das coisas acontece como o
filósofo falou: antes compreender na mente para depois no olho. Muitas
vezes ‘descobrimos’ uma planta por cima da qual caminhávamos
distraidamente pela vida toda. Descobrimos, por exemplo, que ela era uma
Sensitiva, e que ao mero roçar do nosso dedo ela se fecha toda.
Descobrimos outra, que se perdia na multidão dos matos que cobrem o
jardim da nossa casa: uma azedinha! Descobrimos seu sabor fresco e
ardido. Isto é maravilhoso! Mas antes disso tivemos que conhecer ‘mato’,
conhecer ‘grama’, conhecer ‘movimento’, conhecer ‘sabor’. Tudo isso aos
poucos. E é assim que nosso olho vai-se abrindo para as exposições do
mundo.
“O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.”
A vida toda é um galgar para ver. Vamos
descobrindo o mundo e quando somos capazes de ver as coisas descobrimos
depois que havia mais ali. Vamos desconfiando de tudo e perdemo-nos na
multiplicidade das formas exibidas. Tudo isto para depois deste mergulho
intenso ter um mais alto grau de compreensão, e ver mais. Mais
amplamente.
Talvez Bergson também desconfiasse
disso: ver é escrutinar o mundo, fuçá-lo em cada canto para poder, mais
adiante, poder ver mais. Vamos trazendo as partes que já conseguimos ver
como preparação para este ver maior, em busca do Ver final, que vai, tomara! nos trazer a Verdade.
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