considerações acadêmicas finais

* oleg fesov

trilha sonora cotidiana
para ouvir, para executar, tocando e cantado
para que eu tenha material de compor, compor a partir de - influências, preferências
as leituras ainda são O ouvido pensante, de Murray Schafer; O som e o sentido, de José Miguel Wisnik, Conhecimento musical: a intuição, análise e educação musical, de Keith Swanwick; Fundamentos da Composição Musical, de Arnold Schoenberg.
e todas as audições possíveis, do mundo
e todos os convites para concertos, recitais, shows, palestras, woorkshops aceitos
fico pensando que é hora de  escolher os dez tópicos de considerações finais
meu primeiro alvo, os oficineiros:
1 - vinculo e afetividade, que fiz, fortemente com alguns deles, de me doer ter que abrir mão, ainda é o grande artefato da educação. Amor, no duro, que começa com enamoramento, com apaixonar-se, pela pessoa, pela corda que toca, pela possibilidade de puxar dali o canto, paixão que vai-se lapidando ao longo de um semestre, depois outro, que foge rápido por entre os dedos...
2- tocar em grupo, compartilhando aquilo que aprendi, mesmo que o aprendizado comporte os dezessete primeiros anos da minha vida (embora a idade dos rapazes varie entre 17 e perto dos trinta, ou um pouco mais...)
3 - ter uma classe com muitos homens, quase todos eles meninos-homens... que tocam basicamente cordas dedilhadas e a maioria não canta...
4 - falar, dentro da oficina, de composição, sem entrar nas normativas do processo, para deixar que a creação flua diante de quem "toca mais do que eu"... escapar da sensação de masturbação que o jovem que toca cordas dedilhadas provoca, e perceber que "um ato de amor muito intenso pode vir de seu toque"...
5 - perceber que a acuidade auditiva é ágil, plástica e dá conta de comandos assim dispostos: hoje vamos compor a trilha da propaganda de um sedam; agora teremos re menor com sétima maior e fa com sétima - VAI!!!; ouve isso aqui - solto no aparelho o ud de Oleg Fesov e a resposta é a cópia de uma linha melódica quase completa, e bora lá, achar o caminho pelo tato; de Penguin Cafe Orchestra a compreensão de que menos é mais... não sei se eles se olham todo tempo, sequer se se escutam... eu fecho minhas lanternas, sinto que viraria pedra se olhasse, de puro encantamento; às vezes, revestida de instrutor, olho timidamente e vejo jovens mergulhados, abraçados aos seus "brinquedos de som"... a guitarra, timbrada à maneira de folk guitar, geme... lánguida, depois, dropada, range, explode o tímpano esquerdo, incomoda as vísceras... baixo elétrico, um cello imberbe, metalofones que crescem com os dias, violões mancos, às vezes um vaso, um cano de pvc, um pequenino carrilhão, uma kalimba, flauta doce. Um baterista dos bons que quase nunca vem, preso aos seus ais...Há pouco entrou o piano, que antes tocávamos num estúdio de dança sem ele... ás vezes um atabaque, um carrón uma vez, muito bom...e a voz tímida de uma cantora gospel, a voz de um experimentador de música zen;
6 - geléia geral e oficina de música - apresentar o mundo sem excluir ninguém e ainda assim tem quem torce o nariz, preso aos seus dogmas... fazemos na oficina a Música sob o foco de Marcelo Gleiser, sob a bússola de Florestan Fernandes nas leituras complementares...
7 - ouvir a cultura de cada participante, a música americana como carro chefe das abordagens de som, inspirar-se nas leituras de Bárbara Rogoff.
8 - uma ameaça de Pierrot Lunaire acontece um dia: surpresa!!! É a música contemporânea que  nos vem falar, depois de lounges e jams sem fim
9 - que sabemos nós sobre organização do grupo, disposição dos instrumentos, combinação de instrumentos, instrumentação, orquestração? Por que a cada vez é preciso orientar a disposição da sala, limpar o espaço? Por que o espaço fica "virado" quando saímos?
10 - pra onde iremos depois desta experiência?

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