junho brigadeiro
3 de junho
Eu sou a voz da tua mãe.
A voz do nascer do sol.
A voz do vento também.
A voz da tarde preguiçosa.
A voz da noite que vem.
Eu te abraço e corre um arrepio.
Eu te dou o seio.
E sopro em teu ouvido uma nena,
Bendita seja, bendita seja.
Eu, transparente, te acolho.
Meus braços são os braços da calma.
Vem, vem acarinhar o teu neném.
Para o Acalantos de Além Mar
8 de junho
8 de junho
Era de pouca conversa
Ás vezes olhava, olhava...
Lá pelas tantas,
Um aceno entre discreto e longevo
As pálpebras em quebra-luz
Mãos uma sobre a outra
E as duas sobre o colo.
Difícil dizer quando saia de si.
Indiferente não era, ensimesmado apenas.
Soava bem, era o que o distinguia dos demais.
Soava bem, e quando o canto lhe vinha
Embalava o ar com calor
Embora, talvez, fosse apenas lirismo,
Meu palpite e só.
Saí a busca-lo em toda parte.
Era tema de meu trabalho matinal.
Guardei-lhe as mais raras palavras
Redondilhas, sonetos, sextilhas.
Enredos de pó e rio.
Dei-lhe todas as despedidas.
O cleome rebentou em flor.
9 de junho
Juncos, cleomes, açucenas,
Ervas de cheiro, capim limão
Seu coração perfumou-se.
Urzes brancas folharam em cachos,
Salsaparrilha se espalhou.
A vida parecia vivida
Dádiva eloquente de uma trilha de valor.
Iberis, iberis, iberis, onde esqueceste meu cantar?
O jardim acenava quieto, quente.
Últimos movimentos de outono
Sombras escuras pairando nas ribeiras,
Urdiduras.
A vida passando,
Inclinada sobre seu próprio álbum,
Dom de capturar o tempo num espaço de papel.
A noite cintilava gerberas celestes.
A tez do teu sorriso revelou-se.
Ventos brandos, espelho.
Encostei-me à cadeira incômoda (afinal este é o meu método)
Novos versos esperavam degustação.
Uma vez mais as palavras remediadas,
Sentido de aluvião.
11 de junho
9 de junho
E o novo
dia despencou seu olor.
O rosto,
um tanto pálido
Pairava
no ambiente como cândido convite
O jeito
das mãos permanecia, as duas sobre o colo.
Riu das
falas, cantou as rimas. Até dançou.
Doeu-lhe
o peito, pareceu.
O
horizonte irradiava futuros, cálidos, honorários
Sempre a
mercê dos meus panfletos.
Ouvi
chamar a nova estima
Livre de
tanto pensar.
Sensação
de frio, frio, frio, tanto frio.
O orvalho
da manhã virou posta-restante da tarde.
Raiou
algo como um almoço natalino
Rufou
algum tambor argênteo longe, longe, longe...
Inflou o
azul brigadeiro anunciando um dejavu
Um ocaso
casual, um randevu, um candeeiro, por favor.
Pousei a
pena sobre a pauta, um amor.
Rescostei-me
à cadeira incômoda
Amassado o
meu tronco, cansada a minha alma.
Meu verso
pareceu (à luz outonal da tarde) um despejar de adeus.
Inútil
pedir que o Sol ficasse.
Mais um
cleome rebentou em flor.
10 de junho
10 de junho
Juncos, cleomes, açucenas,
Ervas de cheiro, capim limão
Seu coração perfumou-se.
Urzes brancas folharam em cachos,
Salsaparrilha se espalhou.
A vida parecia vivida
Dádiva eloquente de uma trilha de valor.
Iberis, iberis, iberis, onde esqueceste meu cantar?
O jardim acenava quieto, quente.
Últimos movimentos de outono
Sombras escuras pairando nas ribeiras,
Urdiduras.
A vida passando,
Inclinada sobre seu próprio álbum,
Dom de capturar o tempo num espaço de papel.
A noite cintilava gerberas celestes.
A tez do teu sorriso revelou-se.
Ventos brandos, espelho.
Encostei-me à cadeira incômoda (afinal este é o meu método)
Novos versos esperavam degustação.
Uma vez mais as palavras remediadas,
Sentido de aluvião.
11 de junho
Cleomes
sombreados pelo muro
Heras
entrelaçadas
Urzes
roxas, a paz instaurada.
Ventos
constantes, ventos mornos.
A chuva foi
chegando como tia esperada.
Quando o
sol entrou no horizonte
Um véu de
caridade murmurou a nena
E todas
elas, nenas de ninar criança,
Luminesceram
pelo mundo inteiro a noite e o dia.
A voz
tangida de certa melancolia
Vibrou
direto ao coração dorido,
Atiçando as
fímbrias mais ocultas
Acalmando o
compasso célere de quem anseia
Tudo
pareceu então alecrim dourado.
Em paisagem
onírica, as ninfas cirandaram
Rasgou no
céu um coro de nuvens densas
Rica
combinação de raio, cúmulus e criação
A noite
saudou a cidade e as lâmpadas tiraram o chapéu
Encostei-me
à cadeira incômoda (há mais duas, mas esta, incômoda...).
Versos
entrecortados por ramagens tantas
O jardim
por colher
Era quase
dia de Antonio de Lisboa.
30 de junho
30 de junho
Hoje eu gostaria de ter cantado.
De ter ficado em casa, bordado.
De olhar o sol tímido por mais tempo.
De ter ficado em silêncio
Guiado o auto para lugar algum.
Gostaria de ser livre.
Gostaria de ter o homem que amo
A quem ligar.
Gostaria de ver minha gata dormir
Ou mesmo dormir um sono vespertino
Paguei a prestação do imposto de renda
E segui,
Um trabalho estulto foi o que me coube.
Um encontro de equívocos e alterações
Eu recorri ao estado búdico
À cruz do Cristo
Ao manto da Virgem
E não orei.
Lembrei-me igualmente de Viktor Frankl
De Hanna Arendt
E do trabalho na adversidade.
Hoje eu gostaria de ter coragem.
De contar meu tempo e tomar meu relógio de ouro.
Nem isso haverá, ao menos um até logo haverá.
Isso é o que direi a meus alunos quando retornarmos... sinto
tanto...
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