Trabalho em grupo
"O
grão de areia se anula perante outro grão de areia para construírem a
praia imensa que recebe o movimento carinhoso das ondas do mar.
Uma gota d’água se une a outras tantas para formar a imensa massa líquida dos rios, lagos e mares." * www.momento.com.br
Venho sempre com uma forte impressão dessa experiência de lidar com grupos da sexta para o sábado. É um lindo processo, uma linda maneira de curar orgulho e egoismo. É um trabalho que ultrapassa a construção da obra de arte. Doi como que, atinge em cheio o humor e talvez essa sensação possa ser consertada com um pouco mais de tempo de liderança, que fiz até 2008 mais o papel de co-liderança, por princípio, por sentir que cada um deve se responsabilizar pelo trabalho, de preferência com a mesma paixão e lealdade que eu. Eu é que me envolvo exageradamente na implantação do projeto e não deixo margem de erro para possíveis dissidências ou fracassos. Ninguém é de ninguém. Ninguém é por ninguém. Seu umbigo é seu senhor. E eu não sou Jesus, que formou um time de grãos de areia e previu com larga antecipação uma desistência crucial, que o mataria. E Jesus tinha Deus como orientador. E foco em suas proposições.
Não acho justo comparar os rumos da minha vida com os de Jesus, embora em tenha nascido de casa solar e respire Seus pensamentos. È que o grão de areia que sou ainda está à deriva na maré.
Hoje tenho mais dois grupos para atender. Num deles sou líder. No outro sargento, que não deixa de ser líder do seu setor. Gostaria de dizer a todos com os quais trabalho que gosto de lidar com isso. Todos os grupos possuem um grande significado, grande utilidade para a vida. São campos de intenso aprendizado. São o movimento, a atividade combinada entre intelecto, afetividade e sensações. O cérebro age intensamente, o corpo transpira e o coração depura as relações que se estabelecem, por mais frágeis que sejam. Percebo a grande dificuldade de vinculação, de entrosamento, de estabelecer confiança, de exercitar o amor, de manter o ritmo, o pulso. A necessidade de terceirizar o pulso, de dar poder a quem mantem o pulso sempre é uma tentação a ser evitada. Tudo é tenso no trabalho em grupo, instável, sexual. Os gêneros se medem, ombro a ombro. Os egos se testam, inflados, tesos. As diferenças incomodam. E estamos sempre por um triz. É o que sinto. Parecemos seres oriundos de mundos diferentes, às vezes nossa natureza semibárbara fica evidente e até ódio - o outro lado do amor, e possível sentir, mediado por um timbre áspero, por uma desafinação, por carências melódicas e harmônicas, por vivências culturais diferentes. Ontem mesmo eu senti desejos de morder, gritar palavras de ordem e sons de guerra, a selvageria subiu-me a pele. De exigir silêncio! E então cantei com meus melhores sons, na região de risco, para conter o turbilhão. Um pouco mais tarde, tive vontade de dar na cara, de chamar as falas... cheguei no portão de casa cuspindo bile e fogo...
Novamente recordo Alberto Almeida, que me forneceu um nome de especialista em trabalhos com grupos que eu não conhecia. Vou estudar esta autora, vou continuar procurando os registros e a palavra consoladora do Alberto, já que serão poucas as ocasiões em que poderei cruzar com ele pessoalmente.
E tem uma coisa que ainda preciso redigir aqui: com bastante dificuldade e dor, vou conseguindo apartar-me da necessidade que sempre tive da companhia de um coselheiro. Não é que vou, de uma hora para outra, tornar-me ditador. Delegar funções deve ser um trabalho ofertado generosamente a todos os membros do grupo. E é o que venho conseguindo fazer de bom no meu aprendizado, deixar de pedir aprovação (será que eles irão me amar? era o conselho que quereria ouvir...).
Já é a segunda vez que um dos meninos, espontaneamente, me lembra das situações de saia justa, em que o músico desiste há poucos minutos do espetáculo começar... e ontem veio a notícia do outro grupo se formando, com pompas de orquestra, e ontem veio a situação do músico que tinha como meta fazer o curso e que atualmente está largando tudo por necessidade de equilibrar orçamento doméstico, fora outras situações que não cabe expor neste momento, íntimas demais para mim... melhor preparar o coração...
Obrigada ao Pedro Gulin, ao Mauricio Escher, ao Machison Abreu, ao Fabio Laskavski e ao Andre Spinardi, alicerces das ideias do conto de hoje. Jociele Puga estava em treinamento, numa aula de Didática, enquanto superávamos as nossas expectativas de iluminação.
Grato por teu existir, ser e servir...
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