Apreciação de um Encontro singular



Queridos cantores e músicos do segundasabado:
Que bom encontrarmos uma "casa de Francisco" para cantar.
É possível, nesses eventos, cantar e rezar, o que é, efetivamente, o mesmo!
Muitos pediram que eu comentasse o trabalho por nós realizado ainda com "a chapa quente". Vamos "arregaçar as mangas": mostramos nesse 2 de outubro a terça parte do que pretendemos estrear como um show em  novembro próximo. Desafio. 
Para mim, a FAE ainda não é resultado, é processo. Estamos a caminho. Estamos no início. De algo que pode demorar, que pode custar muito empenho. Que demanda erradicação da ansiedade, atenção redobrada à disciplina e um ingrediente que vem sendo, pasmem vocês, requisitado como critério de seleção nas entrevistas de trabalho: o perfil solidário!!!
O desenvolvimento musical é um universo intrincado e ao mesmo tempo simples. Ele depende de cada um encontrar seu pulso, a compreensão das notas musicais e suas relações de certa forma hierárquicas (do se liga ao sol como um imã, por exemplo...), e daí para penetrar no campo harmônico. É como ver um quadro em profundidade. Há planos para se ouvir em música, algum detalhe mais evidente, a batida para muitos, a melodia para outros, o texto para raros. 90% da população está entre eles. E os iniciados somente, estabelecem uma relação tridimensional com os sons que se tornam música. Percebem as repetições, as novidades e novamente as repetições com lógica, com senso de unidade. Com beleza. Quantos humanos ouvem somente estática, ruído, rangido, cadências desarmônicas ao escutar Mozart, por exemplo. Ou se aferram ao "tunxi tunxi" como expressão de suas tendências primárias, inconscientes, insipientes nas experiências sensoriais. É como estudar a Condição Humana. Música e instinto se abraçam. Música cura!
Em poucos momentos nos será dado cantar em salas acusticamente ambientadas para este trabalho com voz coletiva. Ontem, é provável que vocês tenham se espantado, apavorado mesmo!!! com as condições de acústica do auditório. Nós da platéia, ouvimos o som mais ou menos filtrado, mais ou menos suave. Ás vezes, tivemos que deduzir alguns trechos. Vocês, não sei como receberam o retorno, como se ouviram, nunca cantei no palco em que vocês pisaram. Deve ter sido assustador. Não experimentar o palco em que se vai atuar é, no mínimo "amador". E aqui começo a mencionar comentários que ouvimos: ainda bem que alguém ainda se preocupa em reunir grupos corais para cantar. Em construir salas especializadas em suas IES. Esta Arte do Canto Coral já poderia estar extinta, ou totalmente na mão dos atores, dos atores que apreciam Glee. Podem crer, vou "morrer pela boca" também. E torno a agradecer ao "nosso Átila", que foi pessoalmente ao local uns dias antes e nos deixou precavidos de que não seria fácil...
Um ponto que ressalto dessa apresentação na FAE é a importância do repertório que levamos. Os textos são bons, poéticos, criativos, profundos, sem panfletagem. A música é agradável, incendeia as crianças, que se interessam por vocês o tempo todo. Põe alguns ouvintes em contato com reminiscências, boas, saudosas, do tempo em que o Brasil resistia a um regime de servidão e sombra - e que ainda não  se alimentou de todo das possíveis luzes regeneradoras, os tempos ainda são sombrios... ninguém cantou e poucos cantarão o que vocês cantaram, talvez alguns vocais privilegiados - esses a fina flor da sociedade cultural curitibana. E a maioria da população é conservadora. Coral pra ela é...
Os músicos que acompanham vocês têm grande responsabilidade para que o trabalho saia a contento. A cargo deles fica a harmonia, ficam as vozes que ainda não realizamos sozinhos - e esse é o meu sonho, ter um grupo como aqueles caras que se vestem de cor-de-rosa, parecem personagens de desenho animado, esqueci o nome do grupo (fui pesquisar - VOCAPEOPLE)... precisaríamos ter mais ensaios juntos, nós e a IO's, pra entender as deixas, as entradas, e também para nos "libertarmos" do conforto que eles criam... teríamos que ter mais ensaios com o grupo completo, bem como apresentações em que não falta sequer um...
Tenho posto vocês em movimento no afã de compensar a ausência do elemento harmônico nas vozes (ter sopranos, altos, tenores e baixos em ação, entendem?). E faz uma falta danada quando não podemos nos mexer. Nosso trabalho já tem a marca do movimento nele (por isso  os comentários sobre o quanto vocês estavam soltos, tranquilos).
De ontem, ainda uso um pouquinho do seu tempo para falar da Xuxa. Não acho a idéia ruim. Eu me quebraria pra por voces lá, se houver consenso. E iria com toda munição disponível, que não entro em campeonato pra perder, tenho um espírito Bernardinho dormindo em mim. São três meses de empenho, são "cabeças que rolam", é pancadaria, oito horas por dia ensaiando, todos os dias, porque o evento vai em Rede Nacional, pela Globosat, os cambau... tem a coisa de aceitar a música que eles mandam e entrar no "padrão Glee" que, desculpem!!!!!!, não tem nada a ver comigo ou minha música ou noção de música coletiva. Atrai muito estudar dança e teatro, melhorar o condicionamento físico, eu investiria nisso, se ajudasse vocês a se apropriarem do canto coral que fazem.
Um aspecto íntimo, de quem pensa seriamente em como melhorar trabalhos em equipe: Entendam as pessoas que frequentam o segundasabado desde março - e desde 2008 -  como "irmãos mais velhos", que vão chamar a atenção, sempre que a oportunidade surgir, para que "a foto saia bem". Aceitem e resolvam suas divergências com maturidade e sejam solidários, por favor.
Se fosse pensar em nota, daria  80 para o ensaio no Espaço que o nosso Lord Hemingway gentilmente nos cedeu no sábado, e 70 para o I Encontro de Corais da FAE. Obrigada pelos alimentos que acompanham nossos ensaios extra. 
Pela paciência.


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