Para lembrar do Terra Sonora


DESCRIÇÃO

O grupo musical Terra Sonora foi criado em 1994, na cidade de Curitiba, Paraná. Este
grupo realiza performance vocal e instrumental, com base em levantamento de temas étnicos e tradicionais de várias regiões do mundo. As referências à música histórica, presentes no trabalho, se devem à formação dos músicos envolvidos, pontual para a estética de execução. Cerca de setecentos temas musicais foram transcritos pelo músico e Ms. Plínio Silva, idealizador e diretor do Terra Sonora. Um atraente universo sonoro, histórico e geográfico mostrou-se aos músicos envolvidos e facilitou a transposição de fronteiras musicais. Desse modo, foi possível entoar ‘lamentos’,
narrando, por exemplo, os desencontros de um casal, ou as difíceis condições do cotidiano no campo, e executar danças festivas e alegres, passando por temas de trabalho, exaltação à família e à natureza, dentre outras celebrações sociais e religiosas. Este procedimento possibilitou a descoberta de novos timbres, novas técnicas instrumentais e vocais, o que permitiu uma liberdade com relação a princípios acadêmicos, bem como mais recursos interpretativos oriundos da vocação de cada músico do Terra Sonora . Os efeitos dessa combinação resultaram na gravação de 5 CDs: TERRA SONORA (1997) CONTINENTES (2001); TERRAS (2004); TREVAS (2008) e ORVALHO (2009). Além do repertório inusitado, com músicas provenientes das Américas, África, Europa, Ásia e Oceania, a marca do Terra Sonora está na recriação dos arranjos segundo suas próprias influências e experiências. Assim, seus músicos mostram que vários instrumentos podem ser usados fora de suas tradições. Por
exemplo, o "steel drum" (tambor caribenho), presente em temas da China e Noruega. Em temas da Hungria, Grécia e Irlanda, dentre
outras localidades, ressoa a sonoridade brasileira da viola caipira. Da mesma maneira, se ouvem percussões árabes em diversos temas e contextos. O trabalho vocal é outro componente que deve ser mencionado, tanto pela pesquisa fonética de diversos idiomas, quanto pelas diferentes técnicas vocais apreendidas de cada tradição. O Terra Sonora também tem a preocupação de inserir em seu trabalho elementos da cultura brasileira, muitas vezes esquecidos ou tratados sem a devida
importância. Isso fica claro não apenas na utilização de percussão brasileira e da já citada viola caipira, mas principalmente pela inclusão de gêneros musicais de domínio público.

FESTEJOS DO MUNDO


Neste show, “Festejos do Mundo”, o Terra Sonora apresenta um repertório que expressa as relações humanas celebradas em música e
que chegaram a nós, em grande parte devido à prática secular da tradição oral, tão presente nas mais variadas culturas. Nascimento,
ritos de passagem, vida em comunidade, casamento, sátiras, tragédias, viagens, brincadeiras, amor e morte são narrados por todo o mundo, a fim de preservar preceitos morais e cívicos, e concepções estéticas diversas. “Festejos do Mundo” busca aliar a produção tradicional desses povos a capítulos da História da Música. Daquele peregrino
trovadoresco que, iluminado pela renascença, detalha-se no barroco. Esse movimento é claramente percebido nos arranjos propostos para o Terra Sonora. O grupo percorre os caminhos histórico-musicais documentados nas ¨ballatas ¨(canções com refrão), nas ¨formes fixes¨ musicais e literárias (como o ¨viralai¨ e o ¨rondel¨, as ¨danças¨ e a ¨música sacra¨), obras estas de caráter ¨secular ¨e cerimonial. Estas peças, preservadas na História da Música Européia por volta do séc. VII d.C, veicularam um intercâmbio internacional de produção artística, onde os compositores de época se inspiravam, muitas vezes, em temas recolhidos ao estilo popular de composição. O Terra Sonora, através do show “Festejos do
Mundo”, também ressalta a influência embrionária da música asiática e africana na música de outros continentes irradiada historicamente, seja através das mais antigas rotas comerciais por terra ou por mar, ou através dos movimentos de colonização que possibilitaram um amplo e perceptível intercâmbio cultural entre os mais variados povos.

JUSTIFICATIVA

A música realizada pelo grupo Terra Sonora tem atraído grande e diversificado público nestes quinze anos de existência. De sonoridade familiar, consoladora, provocadora, reporta o público rapidamente a reminiscências, permite viajar àqueles que não podem fazê-lo objetivamente. Dessa forma, quem assiste aos shows do Terra Sonora reintegra-se, re-siginifica e valoriza suas origens, sua árvore genealógica e se prepara para o processo de entender tantas diferenças componentes do povo brasileiro. Dessa forma, a função social do Terra Sonora é demover as pessoas a respeitar os povos fruindo sua sonoridade. Como o grupo cria sonoridade a partir desse mesmo processo de espantar-se e encantar-se com as onomatopeías rítmicas dos balineses, por exemplo, ou com o canto caprino das mulheres búlgaras, com o menino que brinca com um besouro atado a um barbante e com ele cria ressonâncias à frente da boca, com mulheres batendo pilão nos cinco continentes, com pessoas se comunicando por assovios de montanha a montanha, ou com assovios de despedida em tribos africanas e que refletem imenso amor por visitantes de outras nações que vem conhecer-lhes os costumes, ou uma singela canção inventada por duas meninas no Butão enquanto colhem flores, pedindo permissão ao universo para colhê-las e enfeitar-se. Todos esses fenômenos retratados em temas étnicos são estudados pelo Terra Sonora não para reprodução, mas para criação de novos contextos e significações, que se sedimentam a cada ensaio e cada encontro com a platéia. A proposta, realizada a base de troca, gera uma arte em constante transformação, além de veicular uma ética de fraternidade e valorização do ser humano, qualquer que seja o momento civilizatório vivido, independente de raça, cultura, religiosidade. Tudo o que é apreendido pelos músicos do Terra Sonora passa por rigorosa experimentação, desde a escolha dos melhores fonemas representáveis do idioma ao manejo e preparação do instrumental. O público percebe e se interessa pelos detalhes sonoros extraídos pela voz e pelos músicos e transforma em sala de aula o palco ao final dos shows, bem como aos músicos orientadores de historia, técnicas de execução instrumental, técnicas vocais e costumes. O CCBB poderá valer-se desse movimento para divulgar campanhas de respeito e reconhecimento ao valor de todas as culturas tão tacitamente reunidas no Brasil a partir de seu achamento.

Liane Guariente


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