tag:blogger.com,1999:blog-72823901781776950442024-03-15T12:50:14.913-03:00projetosantoantoniodelisboapara que fossem canções curtasLiane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.comBlogger269125tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-12579050410751349922024-03-15T12:49:00.002-03:002024-03-15T12:49:22.583-03:00Hospital Casaredo 99 Delirios“Morrer tão completamenteQue um dia ao lerem o teu nome num papelPerguntem: "Quem foi?..." Manoel Bandeira José Gaetano era afeiçoado à terra, na forma lírica do termo. Apreciava o plantio das parreiras, os bichos de cria, a palha. Quanto ao toque dos instrumentos musicais de corda dedilhada, era terramar. Ambientes de estância, bucólicos, era nesses lugares em que ele podia Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-8425896224932728752024-03-13T07:01:00.001-03:002024-03-13T07:01:13.339-03:00Hospital Casaredo 8Cruzes“Vem do luar no céu, vem do luar no marcoberto de flor, meu bem, de Iemanjá”. Vinicius de Morais Madame reanimou-se. O fato de se interessarem por seus escritos foi como acordar de um sonho ruim. Era como ter pessoas para conversar. Dois outros cadernos, em branco, apareceram na Assistência naqueles dias. Todos pensaram que o doutor os trouxera. Só foram saber da boa nova depois. Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-50287911396067940042024-03-08T12:24:00.004-03:002024-03-08T12:27:58.077-03:00Hospital Casaredo 7 “faze que no céu possamos, sem véu, te contemplar um dia”. Canção de louvor Um trecho novo na história da senhora deu-se a conhecer. Madame fingiu dormir, quando o homem dos olhos amendoados se aproximou e tomou do caderno para ler. A Roseira possuía um corredor malcheiroso, desses em que as frituras se misturam a odores Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-74892162557408500812024-03-06T09:41:00.005-03:002024-03-07T10:19:20.065-03:00Hospital Casaredo 6Novos ventosMadame não tinha registros oficiais no sanatório, somente os atuais prontuários, redigidos pelos atendentes. As anotações atemporais que a senhora fazia, conhecidas deles, adquiriram status de relíquia para Gaspare. Uma indigente, um número e um apelido. Trouxera consigo folhas avulsas rabiscadas, três cadernos e um lápis, um naco de pão mofado e pedaços pequenos de tecido, bordados, Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-6132008669381942052024-03-01T10:56:00.002-03:002024-03-01T14:23:43.996-03:00Hospital Casaredo 55 - Sobre a perda do livre pensarMadame contou que José precisava de respostas e aprendeu, muito depois, que as respostas não vêm sem trabalho. Tampouco as validações aleatórias servem para algo. O marujo vivia à espera de condecorações, tinha vaga ideia de agir como irresponsável. Amparava-se por um sentimento de autoindulgência. Escambar estas coisas era mortificante. Ideias suicidas, ainda nãoLiane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-10500514315526672242024-02-28T10:50:00.008-03:002024-02-29T11:37:05.697-03:00Hospital Casaredo 4 4 - Terapias alternativas“Na manhã seguinte, dia 18 de novembro, já refeito das fadigas da véspera, subi à plataforma no momento em que o imediato pronunciava a sua frase quotidiana. Veio-me então a ideia de que ele devia estar informando sobre o estado do mar e que as suas palavras significariam: “Nada à vista!” Vinte mil léguas submarinas.A vida motiva entrar por Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-91806124949809507232024-02-23T12:15:00.001-03:002024-03-08T14:41:34.547-03:00Hospital Casaredo 3Christien Riese-LasseSor é a alcunha d’ela. José Gaetano, condutor da embarcação. Homem cunhado muito depois de 1443. Enfermeiro Gaspare, eu te apresento o sujeito, fazemos gosto. Bons dias, bons ventos o tragam. Disponhas, senhor de espada na cinta. Para recuar, seguir ou estacar durante décadas, por sobre os mares de ninguém. Eis o comandante José Gaetano, assim nomeado. Ele aparece em cena comLiane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-88412698445912081832024-02-21T11:57:00.003-03:002024-02-22T11:51:59.125-03:00Hospital Casaredo 2Cotidiano na AssistênciaPor estar e não estar, Madame não falava. A inconstante comunicação se dava por frases desconexas, anotadas na brochura. Gaspare era o único enfermeiro a quem a mulher deixava lhe desse os socorros possíveis sem se desfazer em espasmos. A banheira, que já fora utilizada em outras ocasiões para imersão em gelo, era evitada por Gaspare. Ele preferia sentar a Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-43639544754380441812024-02-16T10:55:00.006-03:002024-02-16T11:01:50.477-03:00Hospital Casaredo: Prefácio óleo, Carlos Alberto SantosPrefácio “Já neste tempo o lúcido PlanetaQue as horas vai do dia distinguindo,Chegava à desejada e lenta meta,A luz celeste às gentes encobrindo;E da casa marítima secreta he estava o DeusNocturno a porta abrindo,Quando as infidas gentes se chegaramÀs naus, que pouco havia que ancoraram”. Os Lusíadas. Canto II Terçanabal, Promontório de Sagres. Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-90962699562667198922024-02-14T10:28:00.007-03:002024-02-14T10:32:51.251-03:00Hospital Casaredo: lembra-te sempre de mim detalhe do Mont'AltoApresentação Eu vi o Comandante José Gaetano nascer. Acompanho as muitas histórias d’ele desde o dia em que chorou pela primeira vez em meu travesseiro, no ano de 2017, após um sarau conhecido como Canções de Saudade. De lá até hoje, muita coisa mudou em suas narrativas. O homem, que se fez no mar, foi impelido e também convidado a navegar por nove ciclos de sete Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-48820087575124363042024-01-20T14:36:00.005-03:002024-01-20T17:51:25.456-03:00O sonho de Portugal 12As gentes de Nossa Senhora da Anunciada e Santa Maria da Graça puderam ouvir a ruideira. Era dia de São Sebastião. O homem, um belo exemplar entrado nos quarenta anos, perdera os freios da combi antiga, toda pintada de novo, calotas brilhosas e vidros limpos. Habilidoso na direção original, conseguiu tirar o veículo de um passadiço que dava só para ele passar, ladeando um vinhedo coberto de flor.Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-40844928918278584692023-12-24T17:19:00.003-03:002023-12-29T08:01:58.799-03:00O sonho de Portugal 11Quinta da Regaleira - Sintra Mais um Natal se aproxima no Palácio da Pena. Sobre suas arcadas a celeste lembrança, posto que já são dezoito horas do dia 24 dezembro e a noite cai, ligeira e fria. O menino agora homem, aquele que brincou com o lince ibérico, sabe que é, amanhã, a comemoração ao Governador do Sol. Olha o firmamento e suspira. Eis a Luz que visita os humanos, junto às terras Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-64815389034084912972023-11-18T10:13:00.006-03:002023-11-18T18:06:03.662-03:00O sonho de Portugal 10 O leitores destes contos devem esperar que finalmente se defina o episódio do homem, do vestido e seus botões. Em um banheiro do Aeroporto da Portela, a mulher da pós graduação se sentara no reservado, o salto do sapato vermelho descolado. A bagagem fora despachada havia pouco. No quadro de partidas, o maior número de voos já visto. Atrasados uns, cancelados outros, o dela inclusive. Na Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-90250594933690986112023-10-15T15:18:00.001-03:002023-10-15T15:24:01.758-03:00O sonho de Portugal 9 A moça, entrada nos trinta anos, há pouco tivera um bebê. Antes, jovial, força de trabalho, perdeu o juízo quando o pai do zigoto lhe bateu a porta às faces, negou-se a responsabilidades. Rosália sentou-se a um canto da Rua da Porta Nova e olhou a sola do pé mimoso, revestida de coscoro. Tanto caminho vencido, sem calçar-se. Um andar flutuante, um corpo magérrimo, entre ausente e fascinado,Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-59754024723519621162023-09-17T13:48:00.005-03:002023-09-17T13:48:59.095-03:000 sonho de Portugal 8 Almoçou no Gambrinus, ambos a comemorar os mesmos anos de história, setenta e cinco. Pediu um bacalhau a Eça de Queiroz e uma garrafa da Beira Interior, o Quinta dos Termos. Bebeu água em igual medida, não fosse embriagar-se antes de tomar a condução. Pedido perfeito, refeição agradável, degustada com vagar. Ao lado do prato manteve, aberta uma página, o Trem Noturno para Lisboa. Não leu. Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-11727417366742006892023-08-19T12:34:00.007-03:002023-08-21T15:57:32.746-03:00O sonho de Portugal 7 E voltam à cena menino, gato, versos antigos, escaramuças de quixotes, talvez uma ou outra senhora e a moçoila casadoira, dezasseis anos, há quatro dias de os completar. Como se soube dos detalhes, a narrativa não vai contar. O menino é aquele do lince ibérico. Hoje ele temLiane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-90333776661791802622023-07-20T17:15:00.004-03:002023-07-20T17:15:41.954-03:00o sonho de Portugal 6Foto: Rakot13/CC BY-SA 3.0 / BBC News Brasil O cientista saíra do projeto havia cinquenta e dois anos. Vivera no Ártico em sua mocidade. Destemido, fascinado pelo mar e seu fundo, integrou com paixão a equipe de Kola. Participou dos cálculos, da operação das máquinas. Apertou o último pino da tampa de metal, sobre o piso de concreto, quando o projeto foi abandonado. Conhecer o Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-63514594503763581462023-06-15T13:17:00.005-03:002023-06-15T13:35:43.945-03:00o sonho de Portugal 5O garotinho nasceu no Brasil. Como era de se esperar, fora bela a noite de conceber, mesmo a ocorrência se dando em pleno banco de jardim, no campo de marte. Haviam trocado meia dúzia de beijos, tapas e palavras do burlesco. Ele entendera que a mulher queria apenas diversão. Deu. A rapariga, descuidada diriam uns, irresponsável, outros, desmiolada, ficou com a roupa íntima desditosa e assim foi Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-29440208036603440922023-05-15T23:51:00.001-03:002023-05-16T19:27:50.724-03:00o sonho de Portugal 44 - Porto Tão bonito, naquele reino apinhado de janelas, todo dia se escutava o fado. Um deles, em especial. A voz ecoava, logo que o sol dava seus sinais violáceos. E a cantiga não se fazia de rogada. Outras vozes iam somando, suaves umas, na oitava de cima outras, cavernosas ainda outras. Até os desafinos vinham, um hino de amor a vadear no Douro, para dar às águas gélidas do Atlântico. Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-20948527476353466252023-04-17T10:37:00.008-03:002023-04-19T17:34:53.272-03:00o sonho de Portugal 3Aveiro Nascer em sobrado rosa de três janelões, com mirante, no Aveiro, era a intenção. O tempo urgiu, rugiu, a mãe improvisou. O barco e os pneus esverdeados foram as primeiras coisas que o bebê viu, posto que a parturição se deu diante da feira, nos degraus do Mariinhas. Quiçá previdente, a mãe fora buscar piscadelas e murilos, para servir ao mais ou menos companheiro no desjejum. Tinha Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-3323272697247426312023-03-22T12:39:00.008-03:002023-04-01T21:28:13.087-03:00o sonho de Portugal 2Santa Maria da Feira Ali perto. Mata das Guimbras. O menino entrou na floresta, encantado com as armaduras medievais, o brilho das espadas. Mais, havia duendes pendurados pelos galhos, a baloiçar. Rica em imaginação, até demais, a criança, duns cinco anos, não sentiu a presença intensa, de odor acre, do lince ibérico que espreitava entre o mato rasteiro. Tratava-se de um filhote, pouco mais Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-87870085055303701032023-02-11T13:14:00.005-03:002023-02-11T13:20:02.513-03:00o sonho de Portugal 1 Rua Garrett, Lisboa A moça chega ao café. Queda-se. Silêncios. Queixo apoiado às palmas. Os cotovelos a servir de viga aguardam no balcão. Tarde de verão, vestido creme, laise, sem mangas, flores grandes, vermelhas, desenhadas a nanquim. Saia rodada e bolsa de crochê traspassada. Um fugir constante do azul corpóreo quando passa seus quarenta e oito quilos de um pé a outro. EternoLiane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-61291620006160648012023-01-17T20:43:00.005-03:002023-01-17T20:48:36.104-03:00ciranda das flores 12Caiu o pano. A ribalta era um bosque exuberante e mal cuidado. Natural, melhor dizer, ninguém lhe punha a mão. De coxia, um palmital de cada lado e, no ciclorama, um velho chorão, que projetava sua floração como se fora um cortinado. A árvore formava, com sua copa, um palco até bem iluminado, sonorizado de passarinhos. Os dois atores da companhia atravessaram adiante do pano e cumprimentaramLiane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-78112489869098700332022-12-07T10:22:00.002-03:002022-12-07T10:35:34.219-03:00ciranda das flores 11Que é o jardineiro? O plantador da dama da noite? E o lótus, a frutillaria? Que é o semeador do berílio, do rádio, do silício? O expansor dos mares. O declinador de poemas épicos. Aquele que salgou a água marinha. E pintou de azul lunar a pedra. Deu voz, deu oportunidades, deu coração, carícia. Deu visão. Sombra. Luz. A casa pequenina onde convivem bilhares de lobos frontais. Deu frequências. E Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7282390178177695044.post-78812544068757190202022-11-16T10:30:00.005-03:002022-11-16T10:30:43.249-03:00ciranda das flores 10No mundo jardineiro, ela vivia um elo essencial com as plantas. Executava com precisão os seus ciclos, respeitava o sol, comia o necessário e deixava sua assinatura por onde passava. Dizem que não pensava nada, sentia menos. Talvez quisessem referir-se a esses complicados raciocínios partidários, excludentes, conflituosos, que tanto afastam os ditos pensantes, melhor audazes. Seu jeito, seu Liane Guarientehttp://www.blogger.com/profile/08166087031661162707noreply@blogger.com0