férias de julho



                                          * foto/imagem Carlos Chá

Nada será como antes, também o sei.
Mas pode ser melhor do que antes.
O destino é um buraco negro ou a estrela mais luminescente do acolhimento.
Agradeço pela generosidade da arte,
pela possibilidade de aliviar, através dela,
alguma coisa estilhaçada dentro.
Peço perdão ao Universo,
pelas falhas antigas, pelas falhas atuais.
Pela vida que tece e retece a roupa de meus passos.
Sem vilões, sem visões, sem idealizações. Canto.


22 de julho




Qual é o tempero das canções?
O colo quente de Aracy
A mãe do dia, a mãe de Maria
A origem dos pássaros

Qual é a alma das canções?
A roupa, o tanque, o coarador
O varal e os braços fortes de Maria
Filha de São Sebastião

Qual o sentido das canções?
A moça, a janela, espera, impera
A vida lá fora, fumaça fluida
Ah, filha de Uraci, Uraci

Qual é a voz das canções?
Aguapé e as multidões
As matas orvalhadas, aluviões
Com os olhos no horizonte

Aracy, a mãe do dia, a mãe de Maria
E a outra Maria e a filha de Uraci


os exercícios solitários
da arte, da poesia, do canto
eu poderia ter gravado a foto
Formosa Rosa
um cilindro âmbar na madeira acolhedora
uma prece
um frio glacial
promessas de umbrais
universos livres de matéria
espera
víboras, não, "jiboias na cabeça"
jiboia sem acento agudo ainda é jiboia?
ao invés disso
fiz um repente bachiano o mais veloz que pude
sem palavras
pensando no texto No colo quente de Aracy
Ceci, minha avó materna,
mãe de Maria Carolina, minha mãe
condenado texto
ao desterro,
quem quer saber?
A todos um gole de Santa Carolina
na falta de um Alentejano
 

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